Fonoaudiologia e Autismo: Conversando com Márcia Loss de Carvalho

Hoje quando me vejo conversando sobre as terapias mais indicadas para crianças autistas com tranquilidade e desenvoltura nem me reconheço, afinal, quando recebi o diagnóstico de minha pequena eu não sabia praticamente nada sobre o tema. Meu aprendizado foi gradual, e teve um ponto de partida não em um livro ou em um artigo, mas sim uma pessoa. Alguns costumam chamá-la de fonoaudióloga infantil Marcia Loss de Carvalho, mas eu prefiro chamar de fada madrinha.

por Andréa Baptista

Marcia Loss de Carvalho e Gabriela

“Salacadula Mexicabula Pift Poft Pum; junta isso tudo e teremos então, pift poft pum!”. Não era assim que dizia a Fada Madrinha do filme Cinderela? Era só balançar a varinha de condão e dizer as palavras mágicas que tudo estaria resolvido. Bom…  Pelo menos até a meia-noite! Só que Márcia foi outro tipo de fada madrinha para mim e para minha filha, até porque nossas demandas não se tratavam de ir ao baile ou encontrar um príncipe. Ela foi a “fada madrinha da orientação”, “da paciência” e “do carinho”.

Foi com ela que eu aprendi informações valiosas sobre como lidar com minha pequena, e também foi com ela que a Gabizinha deu seus primeiros passos na fala. Exatamente por isso que eu fico muito feliz em trazer hoje, neste texto, o resultado de uma conversa com essa incrível profissional que eu tanto admiro. Espero que essa pessoa que me ajudou tanto a compreender melhor sobre o autismo também ajude cada pai e mãe leitores a entenderem melhor sobre como é o tratamento de fonoaudiologia para criança autista.

É bastante comum o atraso na fala ser um dos primeiros pontos notados pelos pais e mães de crianças com autismo e, definitivamente, uma das nossas maiores preocupações. E o trabalho do fonoaudiólogo é essencial nesse sentido! Isso porque, ao contrário do que muitos pensam (e eu já pensei assim um dia), um fonoaudiólogo não trabalha apenas o “falar de forma clara”, o “falar bem”, o “não trocar o ‘l’ pelo ‘r’”. O fonoaudiólogo pode realizar também um trabalho ligado a um fator essencial de nossa existência: a comunicação e, mais especificamente, a comunicação pela fala.

Comunicar-se não é essencialmente “falar certo”, mas falar de forma a ser compreendido – e, para muitas crianças com autismo, cada vitória nesse sentido é “A” vitória. Justamente, nesse sentido é que Márcia se coloca plenamente favorável à intervenção fonoaudiológica precoce, pois quanto mais cedo procurarmos a melhoria da comunicação com a criança com autismo, melhores resultados teremos, e melhor será sua inclusão na sociedade.

Marcia também explica que a estimulação fonoaudiológica com a criança autista é o que poderíamos chamar de “estimulação global”, focada em ensinar a criança primeiramente a falar o nome das coisas que estão ao seu redor em seu dia a dia, dando instrumentos para seus primeiros passos em comunicação pela fala. Só que não é tão simples assim!  Para a criança, esse processo não pode ser uma tortura. Pelo contrário! Deve ser um momento de prazer!

Para fazer a criança se interessar pelo processo, a fonoaudióloga infantil aponta que transformar isso em brincadeira e se apropriar bastante do mundo lúdico é fundamental. Aos poucos a criança vai construindo um repertório, que, quando aprendido, passa a ser requisitado com doçura em suas sessões e em sua vida diária

Para fazer a criança se interessar pelo processo, a fonoaudióloga infantil aponta que transformar isso em brincadeira e se apropriar bastante do mundo lúdico é fundamental. Aos poucos a criança vai construindo um repertório, que, quando aprendido, passa a ser requisitado com doçura em suas sessões e em sua vida diária

Como materiais de trabalho, Márcia usa imagens, fotos, jogos, espelho e muita criatividade. Coisas do cotidiano não são deixadas de fora. A criança fez cocô na fralda durante a sessão? Ela usa isso como ferramenta para a terapia (no caso o ato de trocar a fralda, não o cocô em si!), a criança chegou com fome e trouxe um lanchinho? Que boa oportunidade para abordar a fala em torno do tema comida.

Outra ferramenta essencial nesse trabalho são os pais e a escola: todos devem estar andando em um mesmo sentido, como uma engrenagem! O envolvimento dos pais, das pessoas que convivem com a criança e dos professores é fundamental.

Marcia (que trabalha há 30 anos com crianças autistas) ainda dá algumas dicas que podem ser facilmente aplicadas no dia a dia: usar o nome real das coisas, sem diminutivos ou apelidos; quando a criança tem dificuldade em responder alguma pergunta sempre dar duas opções; sempre reforçar as pequenas conquistas. E essa última dica talvez seja mais importante: se você perguntou se seu filho quer “água ou suco” e ele pela primeira vez disse “á” (ao invés de água), isso já é uma vitória a ser comemorada. É de pouquinho em pouquinho que as grandes evoluções acontecem!

Concordo muito com a Márcia quando ela diz que devemos comparar a criança com ela mesma e não com outras crianças, embora eu saiba que isso é muito difícil, já que em nossa ansiedade de mãe às vezes buscamos como referência o padrão de tipicidade como uma forma de, na comparação, tentar prever o futuro. Mas o fato é que cada superação é uma superação a ser festejada, independente se para outra criança considerada típica de mesma idade aquela atitude seja algo corriqueiro.

Para minha filha, o trabalho com a Marcia é extremamente importante. Pois foi a partir daí que tivemos os primeiros resultados quanto à fala. E é por minha experiência pessoal que digo que, se seu filho tem autismo e o médico assistente recomendou que ele seja encaminhado a um fonoaudiólogo, não perca tempo! O tratamento adequado pode, sim, mudar a vida de seu pequeno (ou pequena) para sempre.

Apesar de achar Marcia uma fada madrinha, sei que foi seu conhecimento científico que levou a Gabi a evoluir tanto em suas mãos. Mas para mim, como mãe… Cada vitória parece um pouquinho mágica, não!? “Salacadula Mexicabula Pift Poft Pum; isso é magia acredites ou não, pift poft pum!”

Hanna Baptista para o Gazeta do Povo

ONG Sorriso Novo
ONG Sorriso Novo
Olá! A ONG Sorriso Novo é uma organização sem fins lucrativos e nasceu do sonho de seus fundadores em difundir ações solidárias nas mais diversas áreas, tais como: saúde, artes em geral, infância e adolescência, esporte, congressos e palestras, educação de pessoas carentes, idosos, população de rua, comunidades carentes. Desde 2001 temos atuado no Complexo da Maré promovendo diversas contribuições às famílias da comunidade. Com pouco mais de 10 crianças deficientes apadrinhadas, atualmente buscamos firmar projetos e parcerias a fim de aumentar o nosso alcance e ser capaz de oferecer maior assistência a população carente.

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